sábado, 20 de novembro de 2010

HOMENAGEM DO MÊS AO POETA BRUNO DE MENEZES

Justa homenagem do Espaço da Poesia, no Dia Nacional da Consciência Negra, ao multifacetado poeta amazônico Bento Bruno de Menezes Costa, nascido em Belém do Pará, mas precisamente no bairro do Jurunas em 21 de março de 1893.
É de seu livro “Batuque”[1], um dos mais festejados pelos modernistas em sua publicação, a rica poesia Mãe Preta[2], que se destaca entre outras importantes, pois reflete o cotidiano de Belém no início do século XX, os pegas de capoeira, os lundús, os sambas, os batuques e terreiros de macumba. Batuque vem colocar na ordem do dia o tema da africanidade, a própria presença e contribuição negra no cotidiano amazônico, tão negligenciada por vários pesquisadores e cantada por Bruno em verso e prosa, com vitalidade e musicalidade próprios da cultura negra.
O batuque tocado por instrumentos de percussão como o gambé e o caracaxá, dançados pelos negros nas senzalas ao redor das fogueiras, vem originar vários ritmos brasileiros como o samba[3] e outros ritmos e danças originados da África. Portanto para o autor o Batuque é a alma do Brasil, da Amazônia e intitula um conjunto de poesias que do início ao fim enaltece a africanidade brasileira.

MÃE PRETA

           No acalanto africano de suas cantigas,
nos suspiros gementes das guitarras,
veiu o doce langor de nossa voz,
a quentura carinhosa de nosso sangue.
E’s Mãe Preta uma velha reminiscencia
das cubatas, das senzalas,
com ventres fecundos padreando escravos
Mãe do Brasil? Mãe dos nossos brancos?
És, Mãe Preta, um céu noturno sem lua.
Mas todo chicoteado de estrelas.
Teu leite que desenhou o Cruzeiro,
Escorreu num jato grosso,
Formando a estrada de São Tiago…
Tú, que nas Gerais desforrastes o servilismo,
tatuando-te com pedras preciosas,
que deste festas de esmagar!
Tú, que criaste os filhos dos Senhores,
Embalaste os que eram da Marqueza de Santos,
Os bastardos do Primeiro Imperador
e até futuros Inconfidentes!
Quem mais teu leite amamentou, Mãe Preta?…
Luiz Gama? Patrocínio? Marcílio Diaz?
A tua seiva maravilhosa
sempre transfundiu o ardor cívico, o talento vivo,
o arrojo máximo!
Dos teus seios, Mãe Preta, teria brotado o luar?
Foste tú que na Bahia alimentaste o gênio poético
de Castro Alves? No Maranhão a gloria de Gonçalves Dias?
Terias ungido a dor de Cruz e Souza?
Foste e ainda és tudo no Brasil, Mãe Preta!
Gostosa, contando a história do Saci,
ninando murucú-tú-tú
para os teus bisnetos de hoje…
Continuas a ser a mesma virgem de Loanda,
cantando e sapateando no batuque,
correndo o frasco na macumba,
quando chega Ogum, no seu cavalo de vento,
varando pelos quilombos.
Quanto Sinhô e Sinhá-Moça
Chupou teu sangue, Mãe Preta?!…
Agora, como ontem, és a festeira do Divino,
a Maria Tereza dos quitutes com pimenta e com dendê.
És, finalmente, a procriadora côr da noite,
que desde o nascimento do Brasil
te fizeste “Mãe de leite”…
Abençoa-nos, pois, aqueles que não se envergonham de Ti.
que sugamos com avidez teus seios fartos
- bebendo a vida!-
que nos honramos com o teu amor!
            TUA BENÇÃO, MÃE PRETA!


[1] Primeira edição de Batuque foi de 1931, somente na edição de 1939 é que vão ser acrescentados textos novos com “Mãe Preta”, “São João do Folclore e Manjericos” e “Cavaleiro Jorge”. MEIRA, Clóvis, 1990, Op Cit. O poema Batuque encontra-se na íntegra nos anexos.
[2] MENEZES, Bruno de. Batuque: Mãe Preta. In: Obras Completas de Bruno de Menezes: Obras Poéticas. 1993. p.225. A poesia “Mãe Preta” encontra-se na íntegra nos anexos.
          [3] Há várias versões quanto a origem da palavra samba, todavia a mais aceita diz respeito ao fato de que os escravos chamavam sua dança de SEMBA, que significaria “umbigada” ou “união do baixo ventre”, referindo-se aquilo que no Brasil era designado, no século XVI e começo do século XVII, como Batuque. TINHORÃO, José Ramos. Pequena História da Música Popular Brasileira.  1974.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Tristinha

Como se alguma vez na vida
eu tivesse tido companhia
agora me sinto sozinha.
Como se já tivesse possuído algo
sinto que agora não tenho nada.
Me abraço, me aqueço
e sinto frio ao sol do meio-dia.
Me alistei nos conflitos errados,
e amei, quando o amor era pura covardia.
Como se já tivesse sido feliz
agora sigo tristinha,
lacrimando nos intervalos da rotina.
Como se tivesse um dia conhecido a plenitude
agora me sinto em pedaços
e sozinha.
 

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