terça-feira, 15 de novembro de 2011

Vontade

Me tens na ponta dos dedos
me manipulas;
às vezes me dás corda,
às vezes me puxas.
Vivo na incerteza da tua decisão.
Disfarças as ordens de conselhos
e eu obedeço,
eu só me movimento
ao teu bel prazer,
de acordo com o teu querer.
Me tens na ponta dos dedos:
me tens presa
pelos fios do desejo
pelas cadeias da emoção.
Mas já estive pior:
já estive na palma da tua mão.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

"Me pus em teus braços sem medo
gritei meus segredos a teus pés
refém me fiz dos seus desejos
dos beijos que tens roubei dez

dormi e acordei em teus braços
nos laços que não sei livrar
na noite que fria hoje passo
só posso pensar em te amar."

Almirante.
(Elias Monteiro)

domingo, 6 de novembro de 2011

Depois de ti

Depois de ti
ainda existirá o mundo
e tudo de bom e ruim que ele contém.
Depois de ti,
ainda existirão flores,
e música,
e vinho,
e velhos livros queridos.
Depois de ti ainda nascerá o sol
e cairá a chuva.
Ainda terei papéis e tintas.
Depois de ti,
a vida continua.
É sempre assim.
Apenas eu não serei a mesma
depois de ti.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

II FEIJOADA DO BLOCO DA CANALHA

Dando continuidade às suas atividades carnavalescas oficiais de 2011 e já aquecendo para o carnaval de 2012, o grupo vai realizar a Feijoada do Bloco da Canalha. O evento contará com a participação do grupo de samba A-CORDA BAMBA, do grupo de choro CHORAMINGANDO e ainda participação especialíssima dos percussionistas e cantores da Tenda de Umbanda Luz do Oriente, que vão trazer muito axé pra todos!


Fora isso, iniciamos outras atividades permanentes como a “Batucada do Coletivo Canalha”, que ocorre duas vezes por mês (sempre as sextas) na ruela que fica entre o Bar do Parque e o teatro da Paz, na Praça da República. A Batucada usa uma Bike Som (bicicleta sonora de propaganda suburbana) onde plugam instrumentos e o samba e o carimbó corre solto. O evento já teve a participação de grupos como Choramingando, A-Corda Bamba, Boi da Terra, Grupo Sabor Marajoara e uma série de músicos e poetas que dão participações especiais nos eventos. Nos últimos tempos a Batucada tem se destacado no cenário alternativo da cidade, valorizando espaços tradicionais e que fazem parte da história da cultura local, como é o caso do Bar do Parque.

Serviço:

Feijoada do Bloco da Canalha

Data 06/11/11

Local: Bar The Beatles (Rua Cesário Alvin, esquina com Rua Bom Jardim, Cidade Velha, Belém)

Horário: das 12 as 19 horas

Valor da feijoada: 10 R$

Obs. Entrada franca.

Mais informações sobre o Bloco e o evento:

https://www.facebook.com/event.php?eid=248160225230996
 
por: Tony Leão

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Dor Antiga

"Sofro de uma doença antiga
Que persegue por vezes os incautos
Doença dos sustos e sobressaltos
Que conserva apertado o peito
Por vezes asfixia e quase mata
Há horas que a vertigem é quem ataca
E leva ao quase óbito corpo em moribundo leito
Doença dos infernos, dizem uns
Maldição deixada pelos Deuses
Marca indelével de nossa fraqueza
Que fulmina o peito dolorosas vezes
Mas que seria do homem se tal doença não existisse
Quantos poemas, quanta vida, irrealizados dramas?
Seria melhor a vida de um homem que não sentisse
Essa velha dor do coração daquele que ama?
Não sei, talvez para tal enigma não haja saída
Sobre certas matérias não cabe às vezes decifrações
Conformemo-nos então a tal desdita
Da dor antiga que atinge a todos os corações!"

(Poema para minha amiga Aninha Do Rosário)
11 de agosto de 2011 - Tony Leão

sábado, 24 de setembro de 2011

Repousa

Nunca mais fiz poemas
nunca mais fiz amor.
Não tenho tempo
não tenho como.
Apenas vivo, apenas como, durmo, e o resto.
Nunca mais escrevi nada que preste
Nunca mais senti aquele choque elétrico
nunca mais ternura e tesão na tensão correta.
Nunca mais fiz poemas
nunca mais fiz amor.
Apaguei muitas fotos e textos,
deixei só memórias no lugar;
enterrei, sob a chuva, alguém querido
e muitos momentos bem vividos.
E por não ter tempo
e por não ter como,
nem pude chorar.
Nada faço, apenas me alimento,
apenas como.
São apenas coisas que entram e saem.
Não são mais poesia
não são mais por amor.
É a vida que segue
simples e reta,
quase indolor,
sem fazer poemas
sem fazer amor.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

FEIRA PAN AMAZÔNICA DO LIVRO- 2011



Onde: Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia.
Quando: 2 a 11 de setembro
Horário: 14h
Preços: Gratuito
Mais informações: http://www.angeleventos.com.br/xvfeira/

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

E eu disse não
Disse não a melancolia
Procurei a boemia
E os braços de quem me quer

Alguns amigos dizem
Que essa euforia
Essa procura de alegria
É pra fugir de mim
E das marcas de um velho amor
E que ao chegar em casa
Para o travesseiro choro minha dor

Digo que não
Disse não a melancolia
E encontrei na boemia
Minha verdadeira razão!!


wanessa Cardoso

Estranheza

Em um dia assim estranho procuro o tarô
que me diz meias verdades sobre um desamor
neste dia diferente vou pra rua procurar
a razão da estranheza que me faz penar


Sem entender muito bem a razão da inquietude
paro , vejo e exercito a arte de escutar
e me permito a gargalhar
a estranheza desse dia que me faz penar


Minha alma sorri quando o que ela mais quer é chorar

Wanessa Cardoso

terça-feira, 12 de julho de 2011

Coisas

Todas as coisas morrem.
Meu amor foi mais uma coisa que morreu.
Morreu de inanição
subnutrido
raquítico, magrinho
nem combinava mais comigo
que sou cheia de carnes e desejos.

O amor, como qualquer coisa viva, morre.
Nasce prematuro,
antes do tempo,
e cresce lento.
Acho que sempre é meio doente
do corpo e da mente.
Torto, se retarda nos caminhos.

Como coisa viva, só faltou ao amor se reproduzir
deixar algo de si;
faltou envelhecer, amadurecer,
tornar-se sábio.
Faltou ao amor viver mais,
antes de definhar e sucumbir.

O amor é morto.
Viva o amor.

domingo, 10 de julho de 2011

OS POETAS CLÁSSICOS -Patativa do Assaré

        Poetas niversitário,
        Poetas de Cademia, 
        De rico vocabularo 
        Cheio de mitologia; 
       Se a gente canta o que pensa, 
       Eu quero pedir licença, 
       Pois mesmo sem português 
       Neste livrinho apresento 
       O prazê e o sofrimento 
       De um poeta camponês. 
        Eu nasci aqui no mato, 
        Vivi sempre a trabaiá, 
        Neste meu pobre recato, 
        Eu não pude estudá. 
        
       No verdô de minha idade, 
       Só tive a felicidade 
       De dá um pequeno insaio 
       In dois livro do iscritô, 
       O famoso professô 
       Filisberto de Carvaio. 
        No premêro livro 
        Belas figuras na capa
        E no começo se lia: 
        A pá — O dedo do Papa, 
        Papa, pia, dedo, dado, 
        Pua, o pote de melado, 
        Dá-me o dado, a fera é 
        E tantas coisa bonita, 
        Qui o meu coração parpita 
        Quando eu pego a rescordá. 
         Foi os livro de valô 
         Mais maió que vi no mundo, 
         Apenas daquele autô 
         Li o premêro e o segundo; 
         Mas, porém, esta leitura, 
         Me tirô da treva escura, 
         Mostrando o caminho certo, 
         Bastante me protegeu; 
         Eu juro que Jesus de
         Sarvação a Filisberto. 
                                          
        Depois que os dois livro eu li, 
        Fiquei me sintindo bem, 
        E ôtras coisinha aprendi
        Sem tê lição de ninguém. 
        Na minha pobre linguage, 
        A minha lira serva
        Canto o que minha arma sente 
        E o meu coração incerra, 
        As coisa de minha terra 
        E a vida de minha gente.
                                          Poeta niversitaro, 
                                          Poeta de cademia, 
                                          De rico vocabularo 
                                          Cheio de mitologia, 
                                          Tarvez este meu livrinho 
                                          Não vá recebê carinho, 
                                          Nem lugio e nem istima, 
                                          Mas garanto sê fié 
                                          E não istruí papé 
                                          Com poesia sem rima. 
                                          Cheio de rima e sintindo 
                                          Quero iscrevê meu volume, 
                                          Pra não ficá parecido 
                                          Com a fulô sem perfume; 
                                          A poesia sem rima, 
                                          Bastante me disanima 
                                          E alegria não me dá; 
                                          Não tem sabô a leitura, 
                                          Parece uma noite iscura 
                                          Sem istrela e sem luá.
                                          Se um dotô me perguntá 
                                          Se o verso sem rima presta, 
                                          Calado eu não vou ficá, 
                                          A minha resposta é esta: 
                                          — Sem a rima, a poesia 
                                          Perde arguma simpatia 
                                          E uma parte do primô; 
                                          Não merece munta parma, 
                                          É como o corpo sem arma 
                                          E o coração sem amô.
                                          Meu caro amigo poeta, 
                                          Qui faz poesia branca, 
                                          Não me chame de pateta 
                                          Por esta opinião franca. 
                                          Nasci entre a natureza, 
                                          Sempre adorando as beleza 
                                          Das obra do Criadô, 
                                          Uvindo o vento na serva 
                                          E vendo no campo a reva 
                                          Pintadinha de fulô. 
                                          Sou um caboco rocêro, 
                                          Sem letra e sem istrução; 
                                          O meu verso tem o chêro 
                                          Da poêra do sertão; 
                                          Vivo nesta solidade 
                                          Bem destante da cidade 
                                          Onde a ciença guverna. 
                                          Tudo meu é naturá, 
                                          Não sou capaz de gostá 
                                          Da poesia moderna. 
                                          Dêste jeito Deus me quis 
                                          E assim eu me sinto bem; 
                                          Me considero feliz 
                                          Sem nunca invejá quem tem 
                                          Profundo conhecimento. 
                                          Ou ligêro como o vento 
                                          Ou divagá como a lêsma, 
                                          Tudo sofre a mesma prova, 
                                          Vai batê na fria cova; 
                                          Esta vida é sempre a mesma.  

sábado, 18 de junho de 2011

MULHER DE SAMBISTA

Por muito tempo
aqui dentro do peito
o sambista oprimido viveu
longe da boemia, longe da poesia,
nem sei como sobreviveu.

Há um amor tão ingrato
que tirou de seus braços
o amor do passado,
o seu violão.

Vendo a sua tristeza,
ela compreendeu, que está nas veias,
pulsa na alma, a força do samba
do companheiro que escolheu.

Percebeu sua tirania
tirando do sambista a boemia,
apagando a lua de sua vida
ela assim se extinguiria.

Não teve duvidas
em nome do amor,
pegou o pandeiro da parede
e ao sambista entregou.

Rui do Carmo

PRAZER E PENITÊNCIA

Adoro a vida que me sugas, a comida que me comes
O meu dinheiro que emprestas sem pedir
Adoro o meu verso submisso,
O teu sorriso sempre superior
Adoro as noites solitárias em que não vens,
E a tua falta de memória ao meu aniversário

Adoro a ti, ao mundo que te moldou
Adoro meu rosto envelhecido no espelho
Fruto do teu amor e do teu zelo comigo
Adoro a mim mesma por ter me prendido a ti
E no momento da fuga ter desistido

Às vezes nem me queres, e eu fico
Porque adoro a minha dependência
A carência total do teu oxigênio
O gosto amargo do teu beijo
Adoro quando rastejas ao meu perdão
E eu sequer percebi a ofensa

Porque te amar vai além da conquista
Te amar é meu prazer e penitência.

Raquel Costa

FIDELIDADE

Não eu nunca te traí
Sei que me viste com outros
Meus abraços dados
a qualquer corpo,
beijos saboreados
em tantos lábios
- não só um, mas vários -
mas ouve, eu sou fiel a ti
Não, eu nunca fui de outro homem.
Sei, outros machos me possuíram
(a alguns dediquei poemas
com outros até me emocionei)
mas não faças cenas:
eu nunca te trairei.
Não, não me chames safada
Tudo bem, com uns passei
agarrada
com outros fui caso secreto
- até jurei um ou outro amor eterno -
mas nunca tive amantes:
a nenhum eu amava.
Porque em cada boca beijada
Eu procurava teu gosto
Em cada corpo, teu jeito
Como se adormecer em outro peito
fosse uma forma de te possuir
Como oferenda, depus
aos teus pés
as paixões que vivi.
Não, não me ofendas:
Eu nunca te traí

Raquel Costa

AMANTE

Clandestina na tua vida
sem ingresso oficial
te amarei às escondidas
nos dias em que pudermos
fugir do mundo.
Teu nome não direi
não será escrito nosso romance
temos tão pouco, só um instante
antes do nascer do sol.
Tu caminharás com outra
eu me farei de pura
mas meu sorriso de mona lisa te dirá:
sou tua.
Teu é meu corpo, meu tempo à toa
minha é tua paixão, tua pouca
atenção
nossa é a cama, o chão dos cantos secretos
- só não dividimos o mesmo coração.

Raquel Costa

domingo, 12 de junho de 2011

Hoje

Pela primeira vez não contei o tempo
- e ele passou sem que eu percebesse.
Pela primeira vez não senti falta de nada
e nada perguntei
pois tinha certeza de tudo.
Pela primeira vez deixei rolar os dados
e segui sem ver o que deixava pra trás.
Pela primeira vez eu fui inteira
e olhei o mundo como se fosse alvorada...
Pela primeira vez...
e ainda hoje.
Eu ainda tenho o mesmo olhar daquela primeira vez.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

DISVERSOS

É hora de cuidar da vida
porque a vida ainda é criança
e não se cuida só.

A culpa, no fim, é toda minha:
foi eu quem acreditou
- tu só contaste a mentira.

Se o amor ainda engatinha
talvez seja hora de ensina-lo a andar, não?

Como não faz falta, na vida
aquilo que realmente não se tinha!

Mais que toda nudez,
toda sinceridade será castigada:
daí porque é melhor calar.

De resto, todo poema é pobre
porque insinua sempre
o que na verdade se queria gritar.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Viajante

Deixei o primeiro amor no meio da estrada
imenso, pesado, concreto
insuportável
deixei-o e segui viagem
a pé
aos tropeços.

Deixei o outro amor na beira da estrada
volúvel, volúpia estéril
imprestável
carrega-lo seria um erro
deixei-o e segui viagem
a pé
em sossego.

Deixei pequenos amores pelo caminho
frágeis, inúteis, estranhos
superáveis
tê-los seria atar-me
deixei-os e segui viagem.

Deixei o olhar vagar pela estrada
quase ébrio, quase desperto
distraído com a paisagem;
e tropecei num amor inesperado.
Peguei-o e segui viagem
a pé
com ele nos braços.

segunda-feira, 7 de março de 2011

A Serenata

"Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis
tocar flauta no jardin.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela,se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?"

(Adélia Prado)

quarta-feira, 2 de março de 2011

Decidi contar apenas mentiras
ao vento
aos teus ouvidos
aos ouvidos alheios.
Decidi calar toda a verdade no peito.
Contarei mentiras aos gritos
aos sussurros
nos telhados;
darei minha própria versão dos fatos.
Pintarei paredes rachadas
encobrirei crimes
maquiarei mortos.
Só darei endereços errados e tortos.
Porque a mentira é uma máscara
atraente, a convidar
e a verdade, um rosto em chagas
que ninguém quer enfrentar.

(Raquel Costa)

Laços

Tu me desamaste no meio do caminho
Desataste os laços
Desamarraste os elos.
Me desamaste como se nunca houvera me amado
Nem compartilhado teu coração.
Me libertaste
Mas eu continuei na tua mão.
Me desamaste ao sabor dos tempos
Crente que seria melhor solução.
Não foi abandono, nem olvido*
Me desamaste e eu entendo
Que o amor nem sempre é monumento
Destinado a resistir.

Mas com o teu desamor tão repentino
Me deixaste sem dono, sem porvir
Porque tu me soltaste
Mas eu continuo atada a ti.

(Raquel Costa)
*olvido: esquecimento

ESQUECER

Esquecer
é quebrar o laço
apagar o rastro
é rasgar o verso.
Esquecer é o inverso
de querer estar perto
Esquecer é o grito sem eco.

Esquecer é o silêncio da alma
estranha calma depois do drama
esquecer o que se amou
é enterrar a própria dor
e ignorar todo o passado

Esquecer é reinventar os passos
refazer o rastro
reescrever os versos.
Esquecer
é sair do inferno!"

Raquel Costa

Deixa que passe a tempestade
deixa que se desgastem as pedras
deixa que se dilua a saudade
deixa... espera

Deixa que o tempo escorra
como chuva no teu rosto
deixa que esse mesmo tempo te socorra
deixa...espera.

Deixa-te em silêncio, à espera
deixa-te em calmaria e abstinência
o tempo trará o que tanto queres
espera... tem paciência.

Deixa que a resposta venha
como dia do ano novo
deixa, espera, até que aprendas
e saias vitoriosa desse jogo.

Raquel Costa.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O DOCE INFERNO DOS AMANTES

O amor, famigerado malefício,
Invade-nos, mesmo sem ter licença,
Deprime corações, tal qual doença,
Nos cobre de ilusões, torna-se vício.

O amor, se não dosado, vira crença,
E a crença pode, enfim, gerar suplício;
Deve-se, pois, regrar desde o início;
Porém, perante o amor não há quem vença.

Ilude-se quem jura amor eterno!
Paixão é uma felicidade falsa
Que embala o coração como uma valsa.
Amar é transladar do céu ao inferno.

Nas tramas do amor, se contradiz
Quem prega que o amor é justo, é sorte...
Amar é caminhar perto da morte;
Porém, quem nunca amou não é feliz.

(MÁRCIO GALVÃO)

Carpe diem

Aproveita todo o tempo
o tempo todo
nao desperdices as migalhas
nem as de pao, nem as de amor.
Vê: há um certo elogio numa ereção voltada para ti
um corpo te quis
e isso é bom.
Lê todos os livros,
os clássicos e os romances baratos de páginas cinzentas
nenhum conhecimento é inutil
nem falar latim fluentemente em frente ao espelho
enquanto vasculhas a cara em busca de rugas
Nao temas a vida
mas evita a morte nos suicidios lentos
um pouco de apatia, um excesso de festas
e lá se vao os dias.
Aproveita as noites - dormindo ou dançando
insone ou sonhando
o tempo passa
pouco traz, muito leva
e só.

Raquel Costa

É bom estar distante
agrava mais a saudade
abre melhor os olhos e os sonhos.
na distância se enxerga melhor
o caminho, o destino
a verdade.
é bom estar distante
a proximidade sufoca
o roçar de braços falsos irrita
e a propria vida
é vivida no automático.
só distantes fazemos planos
ou refletimos.
é bom ficar longe, de tocaia
observando o movimento
definindo na alma
se é saudade ou carência,
definindo nos olhos
se é inveja ou alivio.
é bom ficar distante
mesmo na beira do abismo."

Raquel Costa

CHOCOLATE

Cupido, o Louco, entediado
Pela eternidade atira seus dardos:
Às vezes acerta a mira.
Noutras se distrai e erra.
E nós mortais da Terra
Cá pagamos o preço da brincadeira.
Uns recebem amores sinceros
Companheiros da vida inteira
Outros, paixões ardentes
Momentos de euforia e gozo
- fazem bem, mas não perduram.
Outros apenas consomem
O chocolate dos não-amados
O licor amargo da solidão.

Cupido, o Louco, traça os laços
Os caminhos e obstáculos
Que unem e separam
Nós mortais aqui na terra.
Não há escolha, nem destino,
Só a louca mira de um menino
Que à toa seleciona
Quem amará e será feliz
Quem terá pouco,
Mas ainda terá algo
E os que terão apenas
O chocolate dos mal-amados.

Raquel Costa

ESTE AMOR

Todos os outros amores
Sombras, gelo
Dispersaram-se, dissolveram-se
- houve um que se fossilizou
Não morreu, nem acabou
Apenas tornou-se pedra.
Todos esses outros
Não resistiram às longas esperas
Sucumbiram ao primeiro não.
Apenas um criou raízes
E as longas estiadas
E as violentas ventanias
E a lenta agonia do talvez
Nada disso o arrancou.
Continuou aqui
Fixo, preso
Me aprisionando.
Apenas um: este, que é por ti.

Raquel Costa

Não é o primeiro amor
e nem poderia:
nesta idade já se amou tanto
que o coração se desgastou, se cansou
Nao é o primeiro amor,
a primeira ilusao
a primeira perda
e nem poderia.
Aprende-se a esquecer
a se reerguer
a seguir:
inteiros - ou nao.
Nao é o primeiro
é só mais um,
o atual.
Por isso dói
por isso prende.
Por isso tem esse gosto de eterno
tem esse peso.
Nao é também o ultimo amor
e nem poderia
mas é o de agora
e ainda nao passou.

Raquel Costa

APRENDIZADO

Eu já amei de olhos fechados,
De coração aberto,
Com asas nos pés
E corpo apressado.
Amei com mão estendida,
Ouvidos surdos,
Abrigos sinceros,
E tempo perdido.
Hoje não amo mais assim.
Desaprendi de amar.
Agora palmilho devagar o caminho
Estreito os olhos para ver melhor,
Aguço o faro
E paro ao menor perigo.
Já não amo de coração tranquilo
Com mãos abertas
E passos firmes.
Amo com medo
Com receio
De me entregar.
Porque o amor se revelou armadilha
E eu me cansei de lutar.

(Raquel Costa)

EU

Não nasci para o amor
Nem para as coisas amorosas.
Nasci para os acasos
Para histórias não-contadas
Para as histerias camufladas.

Não nasci para o amor:
Nem Vênus nem Eros me conhecem.
Visitei, iludida, as moradas de Hades,
Buscando aquilo que é somente palavra:
Love, lieben, amour, amore...

Não nasci para o amor,
Nem para as coisas amorosas.
Nasci para a farsa carnal,
Encontros raros com Príapo,
Nasci para a alegria de carnaval,
Com direito à mentira, à fantasia.
Nasci para rir, lutar, vencer....
Nasci para ser feliz,
Para grandes vitórias.
- Só não nasci para o amor,
Nem para as coisas amorosas.

(Raquel Costa)

PARA QUE SAIBAS PERDOAR

Mede os pecados alheios
Com engenhosa vara de gelo
- ela derreterá antes do fim
E não saberás o tamanho do erro.
Mistura o Bem e o Mal
O ideal e seu contrário
No mesmo funil
-verás que se confundem
Se fundem
E nem tu dirás o que se forma.
Organiza o catálogo dos erros
Como se já os tivesses cometido
-verás então que todo delito
Possui uma explicação.
Para aprender a perdoar é preciso
Que na própria pele tenhas sentido
Todo o peso da contradição:
Quero e não posso
Faço mas não devo
Nego mas desejo
Sinto mas não assumo.
O perdão possui sua áurea regra:
Que atire a primeira pedra
Quem jamais tenha tropeçado
Ou roubado o sorriso de alguém.

De mais, ninguém há que possa
Dizer que nunca fará desacertos
Nem beber a água desta poça.

(Raquel Costa)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Carta-Poema

Saudações, divina amiga
(chamei-te assim a alguns anos
não que o mereças
- embora talvez sim -
mas porque há em ti
- às vezes -
algo dos materias gregos
com que se esculpiam as deusas:
a beleza rude das pedras
a justiça semi-cega de Minerva
a lealdade estranha
com que brindas teus amigos
e que eu, no meu canto, observo
e portanto sei o que digo.)

Como em outro textos
dar-te-ei um poema
desta vez verdadeiro.
Um poema em outra língua
de uma doçura ímpar
que eu, depois de lê-lo
não me considero mais poeta
embora o seja.
Talvez já o conheças.
Se não, vais lê-lo. Senti-lo.
E talvez fiques, como eu, muda
ante a grandeza
a eterna beleza
a perfeição
do poema de Pablo Neruda:


Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo:"la noche está estrellada
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".

El viento de la noche gira en cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En la noches como ésta la tuve entre mis brazos.
!la besé tantas veces bajo el cielo infinito!

Ella me quiso, a veces yo también la queria.
!como no haber amado sus grandes ojos fijos!

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como el pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudera guardala.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercala mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es certo, pero cuánto la quise!
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no a quiero, es certo, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta, la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque éste sea el ultimo dolor que ella me causa
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.

(Raquel Costa - 12.11.04)

AO VINHO

É só o vinho
que movimenta
o redemoinho
deste sentimento
extinto.

Bebo o vinho
entorno o copo
me entorpeço
e desacredito
do óbvio

É só o vinho
que desperta
que atiça
esta libido
fugidia.

Deves ao vinho
estas fagulhas
estes beijos
estas ternuras
que ofereço.

É só o vinho
que me acende
que me excita
como se te quisesse
ainda.

Sem o vinho
eu acordo
e aceito o óbvio:
não te quero
não te desejo.

(Raquel Costa)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

DAR NÃO É FAZER AMOR

Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar....
Sem querer apresentar pra mãe...
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado...
Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem
esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.

Mas dar é dar demais e ficar vazio.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar
o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar:
"Que que cê acha amor?".
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.

Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar

Experimente ser amado...

(Luis Fernando Veríssimo)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Passagem

O amor passou.
Deixou no chão resíduos
um rastro fantasiado de saudade.
O amor passou,
arrastando-se, manco;
achei que não andaria uma légua
que a dor - maldita - seria eterna.

E não é que o amor passou?

Deixou impregnado um cheiro:
o odor dos corpos felizes;
deixou nas paredes o som dos sorrisos livres.
Mas passou.
Cruzou a estrada
e se foi.
 

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