segunda-feira, 7 de março de 2011

A Serenata

"Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis
tocar flauta no jardin.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela,se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?"

(Adélia Prado)

quarta-feira, 2 de março de 2011

Decidi contar apenas mentiras
ao vento
aos teus ouvidos
aos ouvidos alheios.
Decidi calar toda a verdade no peito.
Contarei mentiras aos gritos
aos sussurros
nos telhados;
darei minha própria versão dos fatos.
Pintarei paredes rachadas
encobrirei crimes
maquiarei mortos.
Só darei endereços errados e tortos.
Porque a mentira é uma máscara
atraente, a convidar
e a verdade, um rosto em chagas
que ninguém quer enfrentar.

(Raquel Costa)

Laços

Tu me desamaste no meio do caminho
Desataste os laços
Desamarraste os elos.
Me desamaste como se nunca houvera me amado
Nem compartilhado teu coração.
Me libertaste
Mas eu continuei na tua mão.
Me desamaste ao sabor dos tempos
Crente que seria melhor solução.
Não foi abandono, nem olvido*
Me desamaste e eu entendo
Que o amor nem sempre é monumento
Destinado a resistir.

Mas com o teu desamor tão repentino
Me deixaste sem dono, sem porvir
Porque tu me soltaste
Mas eu continuo atada a ti.

(Raquel Costa)
*olvido: esquecimento

ESQUECER

Esquecer
é quebrar o laço
apagar o rastro
é rasgar o verso.
Esquecer é o inverso
de querer estar perto
Esquecer é o grito sem eco.

Esquecer é o silêncio da alma
estranha calma depois do drama
esquecer o que se amou
é enterrar a própria dor
e ignorar todo o passado

Esquecer é reinventar os passos
refazer o rastro
reescrever os versos.
Esquecer
é sair do inferno!"

Raquel Costa

Deixa que passe a tempestade
deixa que se desgastem as pedras
deixa que se dilua a saudade
deixa... espera

Deixa que o tempo escorra
como chuva no teu rosto
deixa que esse mesmo tempo te socorra
deixa...espera.

Deixa-te em silêncio, à espera
deixa-te em calmaria e abstinência
o tempo trará o que tanto queres
espera... tem paciência.

Deixa que a resposta venha
como dia do ano novo
deixa, espera, até que aprendas
e saias vitoriosa desse jogo.

Raquel Costa.
 

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