quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Safadeza?

Posso também eu, esta noite, fazer uma safadeza contigo?

Não se preocupe com os comentários
Dos que se escandalizam facilmente
Tudo ficará entre nós
E nem mesmo o olhar mais treinado perceberá

E ninguém poderá dizer que é safadeza
O que fazemos
Pois na verdade não fazemos nada de mais...


quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Soneto Velho (1993)

Chega devagar e inesperado
num instante já se faz presente
traz consigo sonhos, planos traçados
as mesmas ilusões de antigamente.

Eis que vem, por todos aguardado
queremo-lo original, melhor, diferente
o que foi futuro, torna-se passado
e o saudamos e seguimos em frente.

Aos poucos se apaga a luz
a festa termina, vai tudo embora
e o que era velho se vai de todo

Aí notamos: tem peso igual a nova cruz
e a mesma velocidade a nova hora
enfim: o que muda com o ano novo?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O Bicho

Saudade é bicho escroto
se alimenta de pouco
se contenta em roer os ossos
de lembranças, de torpedos melosos.
Saudade é bicho esquisito
sobrevive no escuro,
na incerteza do futuro,
é bicho que não dorme
mas muito sonha.
Saudade é bicho sem vergonha
persegue o que lhe foge
deseja o que não pode ter.
Saudade é bicho que se recusa a morrer.

sábado, 20 de novembro de 2010

HOMENAGEM DO MÊS AO POETA BRUNO DE MENEZES

Justa homenagem do Espaço da Poesia, no Dia Nacional da Consciência Negra, ao multifacetado poeta amazônico Bento Bruno de Menezes Costa, nascido em Belém do Pará, mas precisamente no bairro do Jurunas em 21 de março de 1893.
É de seu livro “Batuque”[1], um dos mais festejados pelos modernistas em sua publicação, a rica poesia Mãe Preta[2], que se destaca entre outras importantes, pois reflete o cotidiano de Belém no início do século XX, os pegas de capoeira, os lundús, os sambas, os batuques e terreiros de macumba. Batuque vem colocar na ordem do dia o tema da africanidade, a própria presença e contribuição negra no cotidiano amazônico, tão negligenciada por vários pesquisadores e cantada por Bruno em verso e prosa, com vitalidade e musicalidade próprios da cultura negra.
O batuque tocado por instrumentos de percussão como o gambé e o caracaxá, dançados pelos negros nas senzalas ao redor das fogueiras, vem originar vários ritmos brasileiros como o samba[3] e outros ritmos e danças originados da África. Portanto para o autor o Batuque é a alma do Brasil, da Amazônia e intitula um conjunto de poesias que do início ao fim enaltece a africanidade brasileira.

MÃE PRETA

           No acalanto africano de suas cantigas,
nos suspiros gementes das guitarras,
veiu o doce langor de nossa voz,
a quentura carinhosa de nosso sangue.
E’s Mãe Preta uma velha reminiscencia
das cubatas, das senzalas,
com ventres fecundos padreando escravos
Mãe do Brasil? Mãe dos nossos brancos?
És, Mãe Preta, um céu noturno sem lua.
Mas todo chicoteado de estrelas.
Teu leite que desenhou o Cruzeiro,
Escorreu num jato grosso,
Formando a estrada de São Tiago…
Tú, que nas Gerais desforrastes o servilismo,
tatuando-te com pedras preciosas,
que deste festas de esmagar!
Tú, que criaste os filhos dos Senhores,
Embalaste os que eram da Marqueza de Santos,
Os bastardos do Primeiro Imperador
e até futuros Inconfidentes!
Quem mais teu leite amamentou, Mãe Preta?…
Luiz Gama? Patrocínio? Marcílio Diaz?
A tua seiva maravilhosa
sempre transfundiu o ardor cívico, o talento vivo,
o arrojo máximo!
Dos teus seios, Mãe Preta, teria brotado o luar?
Foste tú que na Bahia alimentaste o gênio poético
de Castro Alves? No Maranhão a gloria de Gonçalves Dias?
Terias ungido a dor de Cruz e Souza?
Foste e ainda és tudo no Brasil, Mãe Preta!
Gostosa, contando a história do Saci,
ninando murucú-tú-tú
para os teus bisnetos de hoje…
Continuas a ser a mesma virgem de Loanda,
cantando e sapateando no batuque,
correndo o frasco na macumba,
quando chega Ogum, no seu cavalo de vento,
varando pelos quilombos.
Quanto Sinhô e Sinhá-Moça
Chupou teu sangue, Mãe Preta?!…
Agora, como ontem, és a festeira do Divino,
a Maria Tereza dos quitutes com pimenta e com dendê.
És, finalmente, a procriadora côr da noite,
que desde o nascimento do Brasil
te fizeste “Mãe de leite”…
Abençoa-nos, pois, aqueles que não se envergonham de Ti.
que sugamos com avidez teus seios fartos
- bebendo a vida!-
que nos honramos com o teu amor!
            TUA BENÇÃO, MÃE PRETA!


[1] Primeira edição de Batuque foi de 1931, somente na edição de 1939 é que vão ser acrescentados textos novos com “Mãe Preta”, “São João do Folclore e Manjericos” e “Cavaleiro Jorge”. MEIRA, Clóvis, 1990, Op Cit. O poema Batuque encontra-se na íntegra nos anexos.
[2] MENEZES, Bruno de. Batuque: Mãe Preta. In: Obras Completas de Bruno de Menezes: Obras Poéticas. 1993. p.225. A poesia “Mãe Preta” encontra-se na íntegra nos anexos.
          [3] Há várias versões quanto a origem da palavra samba, todavia a mais aceita diz respeito ao fato de que os escravos chamavam sua dança de SEMBA, que significaria “umbigada” ou “união do baixo ventre”, referindo-se aquilo que no Brasil era designado, no século XVI e começo do século XVII, como Batuque. TINHORÃO, José Ramos. Pequena História da Música Popular Brasileira.  1974.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Tristinha

Como se alguma vez na vida
eu tivesse tido companhia
agora me sinto sozinha.
Como se já tivesse possuído algo
sinto que agora não tenho nada.
Me abraço, me aqueço
e sinto frio ao sol do meio-dia.
Me alistei nos conflitos errados,
e amei, quando o amor era pura covardia.
Como se já tivesse sido feliz
agora sigo tristinha,
lacrimando nos intervalos da rotina.
Como se tivesse um dia conhecido a plenitude
agora me sinto em pedaços
e sozinha.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Digestão

Primeiro, eu te bebi
em doses suaves, repetidas
em goles longos
como a qualquer outra bebida
eu te sorvi
absorvi teu hálito
teus líquidos, teus espasmos.
Depois, te engoli
tão fácil, tão fálico
em doses únicas
de gozos
te possuí.
Então, eu te expeli
das entranhas, dos nervos
te vomitei
e ti e aos meus erros
espremi meus desejos
te expulsei dos poros
dos sonhos
e te esqueci.

Pequeno Poema Pornográfico

Quero que me comas...
com os olhos, me devores.
Quero que me toques
com tesão e ternura,
e no meio da fervura
quero que grites meu nome,
me mordas, me arranhes
me sugues,
a energia, o fôlego.
Quero que teu corpo
me pese na carne
quero que me craves os dentes
no pescoço, nos seios
que me puxes os cabelos
e me beijes com carinho.
E nesse ninho de pernas,
a vida se faz plena e bela..
E depois de todo orgasmo,
quero que descanses nos meus braços
e sussurres meu nome
e me beijes os olhos
e adormeças no meu colo.

sábado, 9 de outubro de 2010

HOMENAGEM A JOHN LENNON-70 ANOS



sexta-feira, 8 de outubro de 2010

FELIZ CÍRIO DE NAZARÉ A TODOS OS PARAENSES

Ilustração:Morandini Alegro.
Viver em Belém tem dessas coisas....
Tem a chuva da tarde que chega chegando e nos delicia com o cheiro de mato, são as mangueiras da cidade de Belém agradecendo por esse acalanto.
Tem o açaí, cor dessa terra morena, que sustenta o caboclo na  sua labuta diária, fabricando a farinha ou tirando o peixe pra vender no ver-o-peso. 
E nos outubros tem a Senhora de Nazaré, mãe dessa gente sofrida, que deixa a cidade florida e passa salpicada de papéis, ela traz consigo o sagrado e o profano, as procissões, o auto do círio, o arrastão do Arraial do Pavulagem, a feira com brinquedos de miriti de Abaetetuba, cidade querida.
Nosso povo é dela tão íntimo que se atreve a chama-lá de Nazinha, Nazica, Naza,  é a grande convidada e homenageada  no  tradicional almoço do círio, onde não pode faltar a maniçoba, a feijoada amazônica e o pato, trazido pelo nosso interiorano, com bastante tucupi,  encomendado desde cedo no ver-o-peso.
Sem dúvida senhora, consegues congregar vários elementos constitutivos de nossa identidade, hoje teu círio é patrimônio imaterial nos deixando cada vez mais orgulhosos de ser Paraense.

Feliz Círio
Wanessa Cardoso

domingo, 19 de setembro de 2010

Férias

Quero férias da vida
quero acordar, olhar o dia
e voltar a dormir
Quero a doce preguiça de nada fazer
Quero férias de mim
fingir que sou outra
mudar a voz, o nome, o rosto
tudo sem esforço
Não quero lutas, nem tenho vontades
quero férias, quero ociosidade
Ver o tempo passar
uma ruga nascer
o pó cobrir a minha máscara
Quero férias, e mais nada.

sábado, 18 de setembro de 2010

POEMA DA INFELICIDADE

Fazia tempo que não chorava,
como é importante esse desabafo para o travesseiro,
sem falseios purgar minha tristeza
minha insatisfação com a vida,
minha impotência perante ela
cada lágrima de desabafo converte-se mais tarde em sorrisos amorosos para os amigos
prefiro esconder essa angustia, esse sentimento ruim que me toma
que me torna frágil, perdida, miserável
pertubadoramente infeliz
com os amigos prefiro a distração dos problemas
vendendo uma imagem de vida arrumada e perfeita
estou um caco, sem forças pra provocar mudanças
é o fundo do poço.....


Wanessa Cardoso
18/09/2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA_JOSÉ SARAMAGO

HOMENAGEM A SARAMAGO-SAUDADES ETERNAS

José Saramago, um dos maiores escritores da literatura contemporânea se foi, mas eternizou-se nos corações de seus leitores. Foi um grande poeta, escritor, jornalista, cronista, roteirista e consagrou-se grandioso ao lado de Camões, e Fernando Pessoa. Deixou um legado escrito em romances, crônicas, diários, viagem, contos, poemas e teatro. Pelo conjunto de sua obra foi o único autor da língua portuguesa a receber um prêmio Nobel de Literatura, embora muitas delas já fizeram parte de listas de leitura obrigatória de várias instituições de ensino superior. Atualmente a Universidade Federal do Pará- UFPA traz na sua lista de leituras obrigatórias, o conto “Embargo” da obra 'Objeto Quase'.

Do conjunto de suas obras destacam-se em 1980 Memorial do Convento; em 1991 “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, livro censurado pelo governo português - o que levou Saramago a exilar-se em Lanzarote, nas Ilhas Canárias (Espanha); Os romances O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), Ensaio sobre a Cegueira (1995) e O Homem Duplicado (2002); a peça teatral In Nomine Dei (1993) e os dois volumes de diários recolhidos nos Cadernos de Lanzarote (1994-7).

Suas obras foram publicadas na Espanha, França, Itália, Reino Unido, Holanda, Alemanha, Grécia, Brasil, Bulgária, Polônia, Cuba, União Soviética, Dinamarca, Israel, Noruega, Romênia, Suécia, Finlândia, Estados Unidos, Japão, Hungria, Suíça, Argentina e México.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

HOMENAGEADO DO MÊS_POETA MÁRIO QUINTANA



DISPONIVEL EM:

quarta-feira, 21 de abril de 2010

VOCÊ E A CHUVA_Wanessa Cardoso

Convite aceito Delpisador, ai vai você e a chuva!!! Um abraço

Vem limpando céu e terra
vem límpido esse amor
vem cristalino como a chuva
você e a chuva
a purificar minha alma
a purgar
impetuoso como uma tempestade
limpando as impurezas,
os ciscos, as marcas
trazendo um sopro de vida,
os raios de sol,
o desabrochar das flores.

Wanessa Cardoso

Escute o áudio da música, com mesmo nome, que inspirou este poema:

quinta-feira, 15 de abril de 2010

MARULHO-Wanessa Cardoso

O mar da paixão
chega manso
como maresia
em cores mil
marinho e anil
os enamorados então
ao mergulhar na paixão
penetram em um maremoto de amor
nebuloso e misterioso
como as águas que se encontram
remoinhando o mar.

Aos poetas de plantão (poema interativo).

Queridos poetas e poetizas, fiz um tema musical chamado "Você e a chuva". Então quero que vocês, o ouçam e, façam um poema para ser recitado com o tema ao fundo.
Abraços.

Ouçam o tema:

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Tony Leão

parei de dormir,
pois que o sono consumia minha razão
transformava minhas esperanças em sonhos
e meu trabalho em descanso
parei de pensar,
pois que a reflexão impedia a ação
e a ação irrefletida é o mais puro metal que molda a espada
parei de caminhar,
pois que o caminho se mostrava espinhoso
e as pedras machucavam os meus pés inchados
como se eu cruzasse uma encruzilhada entre um rei e uma esfinge
parei de sentir,
pois que o sentimento é para os tolos
parei de respirar,
pois os gases são venenosos e o meu pulmão tornava-se fibra, e o músculo carne rija, e o tecido rocha, e a rocha pó
parei de bater o coração, pois o duro trabalho não dignifica o homem
e a máquina consome o homem
parei de dormir,
pois que o sono flertava com a morte e esta lambia minhas pálpebras como uma doce amante
parei
e ao parar
esqueci
e ao esquecer
descansei
e morri.

sábado, 27 de março de 2010

POR QUE É BOM LÊR?




Sobre a obra

"O livro “Dias melhores pra sempre!”, da editora Ateliê, elaborado pelo Canal do Livro, reúne 31 lições do grande poeta Fernando Pessoa para cada dia do mês.
O principal diferencial da obra é ressaltar trechos importantes do escritor de uma forma simples e com uma linguagem jovem.
As frases selecionadas mostram como lidar com sentimentos como o amor, a perda, a solidão, a amizade e a desilusão ao longo da vida e das experiências vividas no dia-a-dia."

Livro Clip

RAQUEL COSTA

Decidi contar apenas mentiras
ao vento
aos teus ouvidos
aos ouvidos alheios.
Decidi calar toda a verdade no peito.
Contarei mentiras aos gritos
aos sussurros
nos telhados;
darei minha propria versão dos fatos.
Pintarei paredes rachadas
encobrirei crimes
maquiarei mortos.
Só darei endereços errados e tortos.
Porque a mentira é uma máscara
atraente, a convidar
e a verdade, um rosto em chagas
que ninguém quer enfrentar.

Mundo-Sem-Cabeça

No mundo em que vivo
É proibido pensar
É proibido ser justo

No mundo em que vivo
Deve-se apenas fazer
Deve-se gastar sem ver o custo

O mundo em que vivo
Ninguém sequer para
Nem mesmo para respirar

No mundo em que vivo
Nada mais é importante
Se não o lucrar

O mundo em que vivo
É um mundo perfeccionista

O mundo em que vivo
É o mundo capitalista.

Título 69 [Sem ou Cem Títulos?]

Nariz fino,
Grosso,
Arrebitado.
Nariz "borçal",
Marginal,
Desestilizado.
Nariz preto,
Branco,
Meio azulado.
Nariz com dobras,
Retinho,
Afrescalhado.
Nariz de palhaço,
Comprido,
Bem achatado.
Nariz de porquinho,
Cheio de plástica,
Desnaturalizado.
Nariz de tromba,
Aéreo,
Esticado.
Nariz para dentro,
Para fora,
Até meio engraçado.
Nariz de bruxa,
Também o da Xuxa,
Não podem ficar de lado.
Mas todos são narizes,
Que inalam o mesmo ar
Carboxigenado.

quinta-feira, 25 de março de 2010

FALSIDADE

Falsidade:

As luzes noturnas,
O tilintar dos brindes,
Os sorrisos atrás das garrafas.
Falsa a cidade
Falsa a alegria da madrugada.
Frouxos os sorrisos ébrios,
Farsantes todos os seresteiros
E os amores de fim de festa.
Falso, tudo.
Só são reais o sono
E a ressaca.


Raquel Costa

quarta-feira, 24 de março de 2010

Saudades do Desconhecido

Estou com saudades de você, nem sei o porquê.
Não sei como se sente falta de alguém que não se ver.
Não sei se isso é amor.
Pode ser.

Pode ser uma mistura de sentimentos.
Um querer bruto e fero.
Ou simplesmente a primeira opção.

Pode ser a coisa que eu mais quero.
Mas também pode ser a segunda, a terceira...
Pode esse sentimento ser do coração.

Não sei o que significa essa saudade.
Saudade do desconhecido...
Do que não se ver.
Pode ser um simples querer...
Pode ser "O querer".
Não sei...

Uma coisa eu sei,
Tenho saudade do desconhecido

Simples Coisas

São coisas sem sentido
E sem explicação.

São coisas imprescindíveis
E sem perfeição.

São coisas cheias de glória
E com muita concussão.

São simples coisas
São coisas do coração.

Um Soneto Para Esquecer

O amor é dor que desatina o coração
É o sofrer com a ausência
É se alegrar com uma paciência
Que vem além da imaginação

É poder rimar ação com emoção
É enriquecer com a falência
É mostar algo inverso da aparência
É tudo uma pura curtição

Então por que ficamos tão alunados
Perplexos diante dessa situação?
Acreditando que seremos eternos namorados?

Descobri a minha punição
Por acreditar e ser tão enganado
Em coisas como o coração.



(NOTA: Eis aqui minha primeira poesia, feita há um século.)

Disque Livre-Arbítrio

Sou livre para pensar
Sou preso por me expressar
Tenho livre-arbítrio, mas serve pra quê?

Acredito em contos de fadas
E sou criticado por isso
Não posso soltar meu verbo, minhas palavras.
Tenho livre-arbítrio, mas do quê?

Não a ignorância. Detesto-a, abomino-a, odeio-a
E por isso sou taxado de antissocial.
É essa minha liberdade-prisão.
Fazer, mas não pensar ou pensar, mas não fazer
Tenho que escolher.
Tenho livre-arbítrio, mas ele já morreu.

E O Violão Tocava

O violão.
E o violão tocava.
E o violão tocava sozinho.
E o violão tocava sozinho com as cordas cortadas.
E o violão tocava sozinho com as cordas cortadas de uma forma suave e pura.
Uma forma linda e única.
Uma forma suave, pura, linda e única.
Pois quem tocava o violão era a morte.

Melhor Final...

Sentado em um canto...
Eu estou
Pensando em um amor...
Que não durou
Imaginando uma vida...
Que já passou
Vendo o que poderia...
Ser diferente
Vivendo por aí como...
Qualquer indigente
Envenenado de tanto ser....
Igual
Tentando achar, em mim, um...
Melhor Final.

Consecução

Não sei como sair da solidão.
Não sei se a morte é suficiente.
Não que eu tente tem consecução
Tudo o que eu pense é contingente.

Meus sonhos seguem uma direção
Nada os muda que eu tente.
Da vida sofro sanção
Pois não sou nada conivente.

Por isso vivo em outra dimensão
Fico triste por esse presente
Ligo para o que diz meu coração
Por isso devo ser gente.

Título 66 [Sem ou Cem Títulos?]

Vejo as folhas caídas
Voltarem aos seus galhos
Vejo cada gota da chuva
Voltar para suas nuvens
Vejo os raios solares
Escurecerem mais as vidas
Vejo, mas fico parado
Imóvel.

Vejo o tempo regressar
O passado repetir
Revejo as desgraças humanas
E uma lágrima cair.

Título 22 [Sem ou Cem Títulos?]

Não consigo entender essa cidade
Dá uma de bacana
Renega ser suburbana
Acredita na paz e tranquilidade

Esta cidade gosta de ser novidade
Quer estar no jornal toda semana,
Se não, gira, pira, roda a baiana
E corta do povo a felicidade

Aqui estou a enlouquecer
Dignidade não lhe repõe
Gregório já antes lhe expõe

"De dois efes de compõe
Essa cidade a meu ver
Um furtar outro foder"

Título 18 [Sem ou Cem Títulos?]

Te amaria, se te amasse
Te adoraria, se te adorasse
Te beijaria, se pudesse.

Te tocaria, se deixasse
Te feriria, se eu pudesse
Te bateria, se gostasse.

Te acariciaria, se deixasse
Transaria contigo, se eu pudesse
Te abraçaria, se te amasse.

Te magoaria, se deixasse
Te mataria, se eu conseguisse
Te acenderia, se te apagassem.

Te amamentaria, eu eu pudesse
Tratar-te-ia, se quisesse
Te acolheria, se precisasse.

Te ensinaria, se quisesse
Te namoraria, se deixasse.
Também casaria, se aceitasse.

Te salvaria, se precisasse
E te etc., se pudesse
Faria tudo isso se quisesse
Se pudesse, se deixasse
Se gostasse, se pedisse
Se precisasse.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Metade

Tão pela metade
tudo
o amor, que no fundo é só carne
a amizade
a vida
nesta meia idade
mediocridades não faltam
tudo raso
vasos quase cheios
Tudo é uma fase
ou seja, não verdadeiro.
metade.

Raquel Costa.

Ouça o áudio deste poema:

terça-feira, 9 de março de 2010

Bertold Brecht

“Regar o jardim, para animar o verde!

Dar água ás plantas sedentas! Dê mais que o bastante.


E não esqueçam o arbustos também


Os sem frutos, os exaustos


E avaros! E não negligencie


As ervas entre as flores, que também


Têm sede. Não molhe apenas


A relva fresca ou somente a ressecada;


Refresquem também o solo nu.”

domingo, 31 de janeiro de 2010

Minhas tardes frias

Minhas tardes frias.

Em tardes frias como estas
já pulei carnavais
suja de confetes, suores e chuva.
Em tardes frias iguais
já fui às praças
deitei na grama, tomei garrafas.
Em outras tardes frias
amei de janelas fechadas
abafando gemidos e risadas.
Vivi algumas tardes frias...
que de tao movimentadas
pareciam aquecidas
com o calor generoso do sol, dos corpos...
Agora, nestas tardes frias atuais
me resta um bom lençol
um vinho tomado só
e o silêncio
repleto do eco
das marchinhas dos antigos carnavais.

Raquel Costa.

Ouça o áudio deste poema:



Baixe o áudio:

http://www.4shared.com/file/212201559/5632d145/Minhas_tardes_frias.html

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A visita

A visita

Sinto-me como partícipe das cenas de um filme.
Uma sucessão de imagens
Misturadas a sons
Vejo clipes saindo da minha memória e conjugando-se com o espaço paradisíaco.
Sol, areia, mar, pescadores.
Pescadores, bailarinos, guitarras.
Arranhas céus e um pé descalço.
Tudo, tudo são imagens.
Imagens, projeções.
Referências de um mundo abstrato ou quem sabe real.
É real?
Que representação ao universo cabe?
As imagens que vejo agora me levam de volta a natureza.
Pura, pura, pura.
E as imagens, lembranças do que ficou.
Despurificam a visita

J.J. Espirito Santo.

Ouça a música feita com esta poesia:

sábado, 16 de janeiro de 2010

Última Flor

“Última flor”

Soldados
Armaduras tinindo
E o gládio
E no peito amordaçado
Lacônico, vernáculo do Lácio
E na memória desbotada
O riso da mulher amada
Vento e caravela
Bruma e calmaria
Dentro da procela
Uma voz tremia
O brado heróico lusitano:
Terra a vista

Otávio Léo Monteiro.

Ouça a música feita com esta poesia:

sábado, 9 de janeiro de 2010

Poema Raquel Costa

Estranho: não tenho sonhos
Nem planos
Passo a vida a viver
Apenas
Sabendo que tudo isto é nada
Embora seja tudo o que tenho
Não consigo me libertar da idéia
De que tudo passa
E que portanto
A vida é apenas uma estrada
Por onde andamos.
As vezes ajudo aos outros
Noutras ignoro
Na maioria das vezes
Sequer me importo
Sou como o vento
Ou como sombra:
Apenas sopro
Apenas passo
E só.


Ouça e baixe o áudio deste poema:Poema da Raquel.mp3


http://www.4shared.com/file/192828158/6a0751f3/Poema_da_Raquel.html

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

CONSIDERAÇÕES SOBRE CAFÉS E CERVEJAS-Tony Leão

(para J. Espírito Santo)

sorvo o café de xícara quente
sorvo o soro
sorvo a substância do café
minha mesa não é quadrada
não apresenta as quatro pontas do quadrado
papel, caneta, lápis, xícara com café
sorvo impávido o café da xícara
(sem me importar muito com os seus sentimentos)
todos os objetos estão inertes
o café, contudo, possivelmente não está preocupado qual será o seu fim
(adianto-vos: será o meu intestino enrugado)
nem tão pouco, estão preocupados os demais objetos
sorvo o café, pois que ele é líquido,
fosse sólido, comê-lo-ia
ou no máximo
pediria uma cerveja gelada ao macaco

07/01/2010

TESES SOBRE O TRIÂNGULO-RETÂNGLO- Tony Leão

(para Raquel Costa e todos aqueles que insistem em querer quase-morrer)

a sombra da minha cabeça
espichada no chão
forma um obscuro triângulo-rtângulo
sugerindo que a qualquer momento
minha cabeça poderia rolar e cair no abismo
contudo, minha cabeça é quase redonda
(com exceção das partes que alertam para as deformidades da espécie) e não caberia naquele buraco obscuro
mas, se mesmo assim empreendesse tal tolice,
minha cabeça,


saberia o triângulo-retangular buraco
que "tudo que é sólido desmancha no ar"
e tudo que é líquido
espatifa no chão rijo

07/01/2010

 

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