sábado, 18 de junho de 2011

MULHER DE SAMBISTA

Por muito tempo
aqui dentro do peito
o sambista oprimido viveu
longe da boemia, longe da poesia,
nem sei como sobreviveu.

Há um amor tão ingrato
que tirou de seus braços
o amor do passado,
o seu violão.

Vendo a sua tristeza,
ela compreendeu, que está nas veias,
pulsa na alma, a força do samba
do companheiro que escolheu.

Percebeu sua tirania
tirando do sambista a boemia,
apagando a lua de sua vida
ela assim se extinguiria.

Não teve duvidas
em nome do amor,
pegou o pandeiro da parede
e ao sambista entregou.

Rui do Carmo

PRAZER E PENITÊNCIA

Adoro a vida que me sugas, a comida que me comes
O meu dinheiro que emprestas sem pedir
Adoro o meu verso submisso,
O teu sorriso sempre superior
Adoro as noites solitárias em que não vens,
E a tua falta de memória ao meu aniversário

Adoro a ti, ao mundo que te moldou
Adoro meu rosto envelhecido no espelho
Fruto do teu amor e do teu zelo comigo
Adoro a mim mesma por ter me prendido a ti
E no momento da fuga ter desistido

Às vezes nem me queres, e eu fico
Porque adoro a minha dependência
A carência total do teu oxigênio
O gosto amargo do teu beijo
Adoro quando rastejas ao meu perdão
E eu sequer percebi a ofensa

Porque te amar vai além da conquista
Te amar é meu prazer e penitência.

Raquel Costa

FIDELIDADE

Não eu nunca te traí
Sei que me viste com outros
Meus abraços dados
a qualquer corpo,
beijos saboreados
em tantos lábios
- não só um, mas vários -
mas ouve, eu sou fiel a ti
Não, eu nunca fui de outro homem.
Sei, outros machos me possuíram
(a alguns dediquei poemas
com outros até me emocionei)
mas não faças cenas:
eu nunca te trairei.
Não, não me chames safada
Tudo bem, com uns passei
agarrada
com outros fui caso secreto
- até jurei um ou outro amor eterno -
mas nunca tive amantes:
a nenhum eu amava.
Porque em cada boca beijada
Eu procurava teu gosto
Em cada corpo, teu jeito
Como se adormecer em outro peito
fosse uma forma de te possuir
Como oferenda, depus
aos teus pés
as paixões que vivi.
Não, não me ofendas:
Eu nunca te traí

Raquel Costa

AMANTE

Clandestina na tua vida
sem ingresso oficial
te amarei às escondidas
nos dias em que pudermos
fugir do mundo.
Teu nome não direi
não será escrito nosso romance
temos tão pouco, só um instante
antes do nascer do sol.
Tu caminharás com outra
eu me farei de pura
mas meu sorriso de mona lisa te dirá:
sou tua.
Teu é meu corpo, meu tempo à toa
minha é tua paixão, tua pouca
atenção
nossa é a cama, o chão dos cantos secretos
- só não dividimos o mesmo coração.

Raquel Costa

domingo, 12 de junho de 2011

Hoje

Pela primeira vez não contei o tempo
- e ele passou sem que eu percebesse.
Pela primeira vez não senti falta de nada
e nada perguntei
pois tinha certeza de tudo.
Pela primeira vez deixei rolar os dados
e segui sem ver o que deixava pra trás.
Pela primeira vez eu fui inteira
e olhei o mundo como se fosse alvorada...
Pela primeira vez...
e ainda hoje.
Eu ainda tenho o mesmo olhar daquela primeira vez.
 

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