sábado, 27 de março de 2010

POR QUE É BOM LÊR?




Sobre a obra

"O livro “Dias melhores pra sempre!”, da editora Ateliê, elaborado pelo Canal do Livro, reúne 31 lições do grande poeta Fernando Pessoa para cada dia do mês.
O principal diferencial da obra é ressaltar trechos importantes do escritor de uma forma simples e com uma linguagem jovem.
As frases selecionadas mostram como lidar com sentimentos como o amor, a perda, a solidão, a amizade e a desilusão ao longo da vida e das experiências vividas no dia-a-dia."

Livro Clip

RAQUEL COSTA

Decidi contar apenas mentiras
ao vento
aos teus ouvidos
aos ouvidos alheios.
Decidi calar toda a verdade no peito.
Contarei mentiras aos gritos
aos sussurros
nos telhados;
darei minha propria versão dos fatos.
Pintarei paredes rachadas
encobrirei crimes
maquiarei mortos.
Só darei endereços errados e tortos.
Porque a mentira é uma máscara
atraente, a convidar
e a verdade, um rosto em chagas
que ninguém quer enfrentar.

Mundo-Sem-Cabeça

No mundo em que vivo
É proibido pensar
É proibido ser justo

No mundo em que vivo
Deve-se apenas fazer
Deve-se gastar sem ver o custo

O mundo em que vivo
Ninguém sequer para
Nem mesmo para respirar

No mundo em que vivo
Nada mais é importante
Se não o lucrar

O mundo em que vivo
É um mundo perfeccionista

O mundo em que vivo
É o mundo capitalista.

Título 69 [Sem ou Cem Títulos?]

Nariz fino,
Grosso,
Arrebitado.
Nariz "borçal",
Marginal,
Desestilizado.
Nariz preto,
Branco,
Meio azulado.
Nariz com dobras,
Retinho,
Afrescalhado.
Nariz de palhaço,
Comprido,
Bem achatado.
Nariz de porquinho,
Cheio de plástica,
Desnaturalizado.
Nariz de tromba,
Aéreo,
Esticado.
Nariz para dentro,
Para fora,
Até meio engraçado.
Nariz de bruxa,
Também o da Xuxa,
Não podem ficar de lado.
Mas todos são narizes,
Que inalam o mesmo ar
Carboxigenado.

quinta-feira, 25 de março de 2010

FALSIDADE

Falsidade:

As luzes noturnas,
O tilintar dos brindes,
Os sorrisos atrás das garrafas.
Falsa a cidade
Falsa a alegria da madrugada.
Frouxos os sorrisos ébrios,
Farsantes todos os seresteiros
E os amores de fim de festa.
Falso, tudo.
Só são reais o sono
E a ressaca.


Raquel Costa

quarta-feira, 24 de março de 2010

Saudades do Desconhecido

Estou com saudades de você, nem sei o porquê.
Não sei como se sente falta de alguém que não se ver.
Não sei se isso é amor.
Pode ser.

Pode ser uma mistura de sentimentos.
Um querer bruto e fero.
Ou simplesmente a primeira opção.

Pode ser a coisa que eu mais quero.
Mas também pode ser a segunda, a terceira...
Pode esse sentimento ser do coração.

Não sei o que significa essa saudade.
Saudade do desconhecido...
Do que não se ver.
Pode ser um simples querer...
Pode ser "O querer".
Não sei...

Uma coisa eu sei,
Tenho saudade do desconhecido

Simples Coisas

São coisas sem sentido
E sem explicação.

São coisas imprescindíveis
E sem perfeição.

São coisas cheias de glória
E com muita concussão.

São simples coisas
São coisas do coração.

Um Soneto Para Esquecer

O amor é dor que desatina o coração
É o sofrer com a ausência
É se alegrar com uma paciência
Que vem além da imaginação

É poder rimar ação com emoção
É enriquecer com a falência
É mostar algo inverso da aparência
É tudo uma pura curtição

Então por que ficamos tão alunados
Perplexos diante dessa situação?
Acreditando que seremos eternos namorados?

Descobri a minha punição
Por acreditar e ser tão enganado
Em coisas como o coração.



(NOTA: Eis aqui minha primeira poesia, feita há um século.)

Disque Livre-Arbítrio

Sou livre para pensar
Sou preso por me expressar
Tenho livre-arbítrio, mas serve pra quê?

Acredito em contos de fadas
E sou criticado por isso
Não posso soltar meu verbo, minhas palavras.
Tenho livre-arbítrio, mas do quê?

Não a ignorância. Detesto-a, abomino-a, odeio-a
E por isso sou taxado de antissocial.
É essa minha liberdade-prisão.
Fazer, mas não pensar ou pensar, mas não fazer
Tenho que escolher.
Tenho livre-arbítrio, mas ele já morreu.

E O Violão Tocava

O violão.
E o violão tocava.
E o violão tocava sozinho.
E o violão tocava sozinho com as cordas cortadas.
E o violão tocava sozinho com as cordas cortadas de uma forma suave e pura.
Uma forma linda e única.
Uma forma suave, pura, linda e única.
Pois quem tocava o violão era a morte.

Melhor Final...

Sentado em um canto...
Eu estou
Pensando em um amor...
Que não durou
Imaginando uma vida...
Que já passou
Vendo o que poderia...
Ser diferente
Vivendo por aí como...
Qualquer indigente
Envenenado de tanto ser....
Igual
Tentando achar, em mim, um...
Melhor Final.

Consecução

Não sei como sair da solidão.
Não sei se a morte é suficiente.
Não que eu tente tem consecução
Tudo o que eu pense é contingente.

Meus sonhos seguem uma direção
Nada os muda que eu tente.
Da vida sofro sanção
Pois não sou nada conivente.

Por isso vivo em outra dimensão
Fico triste por esse presente
Ligo para o que diz meu coração
Por isso devo ser gente.

Título 66 [Sem ou Cem Títulos?]

Vejo as folhas caídas
Voltarem aos seus galhos
Vejo cada gota da chuva
Voltar para suas nuvens
Vejo os raios solares
Escurecerem mais as vidas
Vejo, mas fico parado
Imóvel.

Vejo o tempo regressar
O passado repetir
Revejo as desgraças humanas
E uma lágrima cair.

Título 22 [Sem ou Cem Títulos?]

Não consigo entender essa cidade
Dá uma de bacana
Renega ser suburbana
Acredita na paz e tranquilidade

Esta cidade gosta de ser novidade
Quer estar no jornal toda semana,
Se não, gira, pira, roda a baiana
E corta do povo a felicidade

Aqui estou a enlouquecer
Dignidade não lhe repõe
Gregório já antes lhe expõe

"De dois efes de compõe
Essa cidade a meu ver
Um furtar outro foder"

Título 18 [Sem ou Cem Títulos?]

Te amaria, se te amasse
Te adoraria, se te adorasse
Te beijaria, se pudesse.

Te tocaria, se deixasse
Te feriria, se eu pudesse
Te bateria, se gostasse.

Te acariciaria, se deixasse
Transaria contigo, se eu pudesse
Te abraçaria, se te amasse.

Te magoaria, se deixasse
Te mataria, se eu conseguisse
Te acenderia, se te apagassem.

Te amamentaria, eu eu pudesse
Tratar-te-ia, se quisesse
Te acolheria, se precisasse.

Te ensinaria, se quisesse
Te namoraria, se deixasse.
Também casaria, se aceitasse.

Te salvaria, se precisasse
E te etc., se pudesse
Faria tudo isso se quisesse
Se pudesse, se deixasse
Se gostasse, se pedisse
Se precisasse.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Metade

Tão pela metade
tudo
o amor, que no fundo é só carne
a amizade
a vida
nesta meia idade
mediocridades não faltam
tudo raso
vasos quase cheios
Tudo é uma fase
ou seja, não verdadeiro.
metade.

Raquel Costa.

Ouça o áudio deste poema:

terça-feira, 9 de março de 2010

Bertold Brecht

“Regar o jardim, para animar o verde!

Dar água ás plantas sedentas! Dê mais que o bastante.


E não esqueçam o arbustos também


Os sem frutos, os exaustos


E avaros! E não negligencie


As ervas entre as flores, que também


Têm sede. Não molhe apenas


A relva fresca ou somente a ressecada;


Refresquem também o solo nu.”
 

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